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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Omissão da arbitragem

Por: Fernando Calazans

Reclamações dos jogadores durante as partidas e os cercos para intimidar os árbitros estão voltando ao nosso futebol


Aos poucos, assim como quem não quer nada, as reclamações seguidas dos jogadores durante as partidas e os cercos para intimidar os árbitros estão voltando ao nosso futebol. É uma pena, porque a decisão de coibir essa irregularidade, que interrompe e mancha os jogos a cada momento, foi uma das raras, raríssimas, medidas benéficas tomadas pela CBF e sua comissão de arbitragem.

O mau costume já tinha se alastrado pelos nossos campos, até como uma atitude covarde de quatro, cinco jogadores de cada vez, cercando, pressionando e ameaçando os juízes, paralisando o jogo e diminuindo o tempo de bola rolando. Enfim, desvirtuando o espetáculo do futebol. Com a instrução da comissão de arbitragem para que os juízes aplicassem cartões amarelos nos jogadores que procedessem assim, o mau hábito desses jogadores chegou a diminuir bastante, em benefício do desenvolvimento natural das partidas, com menos interrupções e mais tempo de bola em jogo. Mesmo contando com a oposição daqueles que acham que jogadores de futebol podem fazer o que bem entenderem sem sofrer punição.

O problema é que, como quase todas as medidas benéficas tomadas pelas nossas entidades esportivas, até essa foi se desmanchando. Árbitros foram perdendo o rigor na obediência à nova recomendação, e os jogadores já estão reclamando de tudo, de qualquer marcação, certa ou errada, da arbitragem. Chega a ser constrangedor, por exemplo, ver um jogador cometer a falta mais nítida, mais violenta, mais desleal e, em seguida à marcação do juiz, sair reclamando, gesticulando e esbravejando, como se tivesse sido vítima da mais grave injustiça. Ou os árbitros voltam a mostrar rigor no combate às reclamações dos jogadores ou teremos mais um fator de empobrecimento da qualidade dos jogos.

Não é só isso. No aspecto geral, nossa arbitragem já está ruim há muito tempo e continua piorando a cada ano. É impressionante como chegou a este ponto de absoluta falta de critério. A impressão que se tem é que cada um, cada juiz, tem um critério particular, diferente uns dos ouros, ou mesmo que não tem critério algum, adotando julgamentos diferentes no mesmo jogo. Pode marcar uma falta aqui, pode ignorar a mesma falta ali, assim como em momentos diferentes das partidas. A impressão que se tem é que o árbitro marca ou deixa de marcar conforme sua conveniência ou conforme a conveniência do jogo, dependendo da situação.



O maior exemplo de todos, como estamos cansados de saber e de perceber, é a marcação, ou não, de faltas e de pênaltis com bola na mão ou mão na bola. Não há observador que consiga compreender a regra adotada por alguns juízes e não adotada por outros. Trata-se de uma adivinhação.

Outra adivinhação é o comportamento pessoal dos árbitros. Na última rodada do Brasileiro, Héber Roberto Lopes deu um empurrão em Dudu, do Palmeiras, que, sabemos também, é um jogador descontrolado. Mas por que não uma advertência dentro da regra? Ou será que empurrões agora são permitidos no jogo de futebol? Héber Roberto Lopes, que já foi juiz competente, de uns tempos para cá virou uma figura surpreendente, que durante os jogo fala, conversa, bate papo, discute, briga e até empurra os outros.

Numa rodada anterior, o lateral Fágner, do Corinthians, deu uma entrada desclassificante em Éderson, do Flamengo, que chamou a atenção de todos — menos de Héber Roberto Lopes, que nem falta marcou. Em julgamento por causa dessa omissão, o árbitro foi absolvido pela Justiça desportiva. Como “prêmio” pelo seu gesto incivilizado, Fágner foi convocado por Tite para a seleção brasileira. Éderson está até hoje em tratamento da contusão e sem previsão de volta ao futebol.

A omissão no combate à violência dentro de campo é a falha mais grave da arbitragem brasileira, sem que a CBF tome qualquer providência. Os árbitros devem ser exatamente os responsáveis pela lisura do jogo e pelo dever de proteger aqueles que entram em campo para jogar futebol de outros que entram para matar o jogo, as jogadas e os adversários. A indiferença é, há tempos, a característica da arbitragem brasileira em relação ao jogo sujo. E é a característica da CBF também.

Fonte: O Globo