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terça-feira, 29 de agosto de 2023

CBF desvaloriza Brasileiro ao dar um título ao Galo por mini-torneio

Por: Rodrigo Mattos - Colunista do UOL

O time do Botafogo já jogou 20 vezes no Brasileiro para acumular 11 pontos na liderança. Ainda está longe de garantir o título pois tem quase um turno inteiro para correr para garantir a taça. Seus adversários serão os maiores times do Brasil e a caminhada será árdua por 38 rodadas.

Agora imaginem um jogador alvinegro que acorda de manhã e lê no noticiário que a CBF reconheceu um título brasileiro do Atlético-MG em um mini-torneio de seis jogos, com o nome de Torneio dos Campeões, disputado com o Rio Branco, de Vitória, Portuguesa, de SP, e Fluminense, em 1937. Uma taça ganha em dois meses.

E esse pensamento vale para todos os jogadores que disputaram de forma dura o Brasileiro pelos últimos 53 anos desde 1971. Times que enfrentaram campeonatos de fato, longos, contra os principais times do Brasil, para se sagrarem campeões. No final, seus esforços foram igualados a meia dúzia de partidas de um min-torneio de verão esquecido.

"Ah, mas a realidade era diferente na década de 30" De fato, era. Não havia a possibilidade de um campeonato nacional, o que levava a disputa de min-torneios sem representatividade nacional de fato, alguns de seleções, outros de times, organizados por federações - não havia CBF, nem CBD na época.

O dossiê feito pelo Atlético-MG - como mostra uma extensa matéria do "Globo Esporte" - conta a história de um min-torneio que tem o confronto entre os campeões estaduais de quatro Estados, Rio, São Paulo, Minas e Espírito Santo.

Não há nenhuma representatividade de times do Sul, do Nordeste, do Centro-Oeste ou do Norte. A divisão regional do país era diferente, mas não havia equipe nenhuma de Estados dessas regiões. Não era sequer um mini-torneio de âmbito nacional.

O que havia, sim, eram equipes irrelevantes para o futebol sob qualquer perspectiva como a Liga da Marinha e a Aliança Campista. Disputaram uma fase preliminar. Quase que a Liga da Marinha emplaca um título "Brasileiro" não fosse eliminada pelo Rio Branco na prévia.

O Atlético-MG ganhou com jogos de ida e volta um quadrangular, inclusive tomando uma goleada de 6x0 do Fluminense no Rio. Na partida de volta, o Fluminense abandonou o jogo aos 18min do segundo tempo quando o Galo vencia por 4x1. Ao final, foi campeão com 9 pontos.

No seu dossiê, também segundo a matéria do "Globo Esporte", o Galo alega isonomia em relação ao reconhecimento das Taças Brasil e do Roberto Gomes Pedrosa. Bem, o reconhecimento da Taças Brasil como Brasileiro já foi sem nenhuma base técnica, baseado também em dossiê do Santos.

Eram campeonatos que, em certas edições, os times jogavam quatro vezes e eram campeões. Estavam classificados por serem campeões estaduais. Seu paralelo é com a Copa do Brasil, que foi criada para revive-la aliás. São torneios relevantes na sua época, nunca foram o Brasileiro, nem de perto se assemelham a ele.

O Roberto Gomes Pedrosa, sim, há uma discussão porque era uma competição mais nacional, com mais jogos disputados. E foi a base para a formação do que se convencionou chamar de Brasileiro. Ainda assim, era um campeonato proporção menor do que se instalou em 1971. Não deveriam ser reconhecidos também na modesta opinião desta blog diante dos fatos históricos. Porém, é uma posição bem defensável de quem os quer incluir no rol de Nacionais.

Na realidade, Ricardo Teixeira, em 2010, deu uma canetada e reconheceu esses títulos por mera política. Havia uma disputa em curso no Clube dos 13, primeiro por eleição, depois por poder na entidade. E a CBF queria atrair clubes para o seu grupo, que tinha Kléber Leite à frente, contra Fábio Koff. Ao distribuir títulos, agradava vários clubes e os trazia para seu lado. O C13, no qual Koff ganhou a eleição, acabou implodido pelas manobras da CBF e de seus clubes aliados.

Pois essa decisão é tomada como referência para dar o novo título ao Galo.

A CBF atual afirmou que foi uma decisão baseada em pareceres dos departamentos de competições e jurídicos. Bem, Ricardo Teixeira alegou também que foi uma decisão técnica.

No final das contas, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, repetiu Teixeira ao reconhecer como um título Brasileiro um mini-torneio de poucos jogos, e, neste caso, com parte dos adversários irrelevantes. A base é um monte de matéria de jornais que chamava o Atlético-MG de campeão brasileiro.

Se houver um mínimo de coerência da CBF, o Paulistano e o Bangu também devem ser reconhecidos como campeões brasileiros, já que ganharam o mesmíssimo Torneio dos Campeões, em 1920 e 1967. É possível até cogitar pagar com atraso as cotas de premiação para a Liga da Marinha pelo seu 5o lugar no Brasileiro.

Difícil é explicar para os jogadores dos times que correm por 38 rodadas para levantar a taça porque eles deveriam levar o Brasileiro a sério.

Documento que oficializa o título brasileiro do Atlético-MG de 1937 — Foto: Reprodução

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