Árbitro
analisando árbitro: Modernidade ou falta de ética?
O Curso de Analistas, promovido pela Comissão de Arbitragem da Federação Paulista de Futebol (FPF) sempre foi cercado de polêmicas, desde a sua primeira edição em 2021. Os que conseguiram se formar, fizeram estágio supervisionado - como estágio prático - em algumas rodadas das competições da FPF e sem qualquer remuneração.
Apesar do constar que a realização do curso não garante vaga no quadro de analistas da FPF, o edital induz o candidato ao erro de acreditar em uma vaga, inclusive, dizendo que os participantes poderão integrar o quadro de prestadores de serviços da entidade, porém no momento da inscrição para atuar, exige-se alguns requisitos em que a maioria dos participantes não tem. Nesta hora o agora 'analista' se da conta que de nada valeu todo seu esforço, dedicação e dinheiro gasto com o curso e que seu certificado não passará de um quadro ornamentando parede e sem qualquer valor.
Ou seja, descobrem que, além do tempo perdido, perderam também R$1.300,00 reais para obter um diploma sem qualquer utilidade ou serventia.
Ao todo, o curso gerou algo em torno de 150 mil reais aos cofres da FPF e o edital deste ano já está disponível para quem quiser se qualificar em uma função que, com raríssimas exceções, dificilmente conseguira trabalhar.
Segundo informações, dos cerca de 100 alunos aprovados no curso, não mais que dez estão sendo escalados e muitos deles, são árbitros ou assistente em atividade, que estão analisando seus companheiros de campo. No ponto de vista profissional as funções desempenhadas são incompatíveis e do ponto de vista ético, árbitro em atividade analisar árbitro é no mínimo antiético.
Os relatórios feitos pelos analistas além de atribuir notas e conceitos ao profissional analisado e de fazer comentários sobre pontos positivos e pontos a melhorar, são posteriormente objetos de uma reunião chamada de devolutiva, onde os lances são mostrados aos árbitros daquela categoria, servindo como exemplo para que o eventual erro não volte a ocorrer.
Além do exposto acima, os analistas de verdade, pertencentes a um quadro com esta única função, grupo formado por experientes ex-árbitros que encerraram a carreira no apito a muito tempo e passaram a avaliar os árbitros, estão sendo preteridos ficando fora das escalas que estão sendo ocupadas por árbitros em atividade, em uma concorrência desleal.
O desgaste é grande e a revolta desses profissionais é recorrente. Alguns deles, pedindo anonimato, entraram em contato com o BLOG.
“Absurdo, a FPF está escalando árbitros da ativa como analistas iniciantes. Falta de ética e deixando os verdadeiros de fora, revoltando o pessoal que estão todos puto da vida” – disse um deles.
Atualmente a maior revolta do meio envolve o assistente Daniel Luís Marques que, obviamente será usado como exemplo, mas não tem qualquer culpa se a comissão o utiliza nas duas funções, pois esta apto para as duas e cumpre as escalas, alias, como qualquer um, inclusive quem reclama, certamente também faria.
Daniel que tem 41 anos (06/11/1981), desses, 23 como árbitro, vem sendo escalado seguidamente em uma função ou na outra, sendo dentro de campo como assistente e fora do campo como analista. Este ano atuou em cinco partidas da base como analista e em 18 partidas como assistente nas Séries A1, A2 e A3.
O que eles disseram
O BLOG falou com Ana Paula Oliveira, presidente da Comissão de Arbitragem da FPF.
Segundo a dirigente, todos os árbitros/analistas estão analisando só na base, competições que eles não atuam dentro de campo. Além disso, todos fizeram e foram aprovados no curso de analista 2021 e a CEAF vem trabalhando para melhorar a qualidade de entrega dos analistas atuais.
Ana falou também sobre a necessidade de ampliar o quadro de analistas com qualidade e a melhor forma é investir em estágios monitorados como a CEAF vem fazendo e que também faz parte do processo de transição de carreira.
Sobre as reclamações dos analistas ela não ve problema e que gosta deste desconforto.
“Sinceramente gosto desse desconforto dos analistas, muitos não estavam valorizando as oportunidades. Agora estamos formando mais e com mais qualidade” – disse Ana Paula que encerrou falando no aproveitamento da experiência.
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