Entendendo
as escolhas dos árbitros para a Copa do Mundo de 2022
Tenho ouvido e lido
muitas opiniões sobre as indicações dos árbitros brasileiros para a Copa do
Mundo de 2022. Pelo tempo que tenho no futebol posso também emitir as minhas e o
farei com base em contatos diversos, desde integrantes de comissões estaduais,
nacional, ex-dirigentes do apito e pela mídia.
Antes, porém, é
importante lembrar que Wilson Seneme, ex-presidente da comissão de arbitragem
da Conmebol, ainda é um dos dez membros do Comitê de Arbitragem da FIFA,
portanto, ao contrario do que muitos pensam, um dos principais responsáveis por
tais indicações por motivos óbvios.
Como ocorre na CBF,
que recebe os árbitros vindo das Federações, o mesmo se dá na Conmebol que
recebe os selecionados pela CBF para o quadro internacional, assim, Seneme
acompanhou todo processo desde quando assumiu o lugar de Carlos Alarcon em
Agosto de 2016.
Em 2018, Seneme deve ter
avalizado a indicação de Sandro Ricci, hoje comentarista da TV Globo e pode
elogiar ou criticar as decisões dos seus antigos companheiros e chefe do apito;
Emerson Carvalho, que é cotado para integrar a comissão nacional; Marcelo Van
Gasse e Wilton Sampaio, árbitro de vídeo no mundial de 2018.
Antes quero falar
de quem não foi escolhida, a Edina Alves, primeira mulher a atuar numa
competição masculina da FIFA, o Mundial de Clubes 2020, que devido a pandemia, só foi disputado em 2021. Ela
não vai porque a FIFA decidiu que não levaria mais de uma ‘árbitra’ por país,
já que apenas seis irão. Edina perdeu a vaga para a catarinense Neuza Back, com
um currículo invejável de mais de uma centena de jogos, sem qualquer virgula,
na principal competição do país.
Falando dos
indicados, o currículo dos árbitros Rafael Claus e Wilton Sampaio, que passaram
pelo processo com aval de Seneme, começou desde 2019:
Ambos estiveram na
Copa América 2019 e 2021, com os assistentes Rodrigo Correa, Kleber Gil (2019)
e Bruno Pires e Danilo Manis (2021) e foram escalados para a rodada decisiva
das eliminatórias, com Claus atuando na partida Argentina x Equador e Wilton
Sampaio na partida Venezuela x Colômbia.
Até sair a lista, todos,
inclusive eu, apostavam que iria apenas um deles, tanto que Sérgio Corrêa, o
ex-manda-chuva mais longevo do apito deu uma longa e rara entrevista na Rádio
Bandeirantes quando opiniou: “são dois árbitros de qualidade e experiência e
gostaria de ver os dois no Mundial, mas que normalmente a FIFA só levava uma e
que Collina apostaria na experiência de uma copa, portanto poderia dar Wilton
Sampaio”.
Clique aqui e confira a entrevista a partir do minuto 24.30 do vídeo:
Sete décadas depois
A última vez que
tivemos dois árbitros foi em 1950, com o Brasil sediando e perdendo a Copa na
presença de 200 mil brasileiros no Maracanã e sete décadas depois o fato se
repete.
Os assistentes escolhidos foram os que acompanhavam Claus e Sampaio em jogos pela Conmebol e pela FIFA e os nomes do goiano Bruno Pires, do carioca Rodrigo Corrêa já eram esperados. O paranaense Bruno Boschilia (primo do falecido Dulcidio) e o paulista de Tatui, Danilo Manis foram as surpresas. Já Neuza Inês Back maior surpresa ainda, pois em nenhum momento foi cogitada.
Brasil, Inglaterra e
Portugal sem VAR
Como todos sabem e
Seneme em suas entrevistas sempre repete que tanto a FIFA, a Conmebol, como a
CBF, apostam em nomes que tenham larga experiência com VAR e decidam no campo.
Isto se comprova até
nas escalas das Séries A e B do Brasileiro, com árbitros FIFA e os candidatos para o escudo em 2023
atuando sem cessar e aqui faço um parêntesis sobre a cobrança, antes sistemática
das entidades dos árbitros da comissão nacional não designar árbitros do norte
e nordeste silenciaram. Qual seria o motivo?
No Brasil, a
ferramenta começou em 2019 e pelo número elevado de árbitros no campo e para
atender outros países, o sacrificado foi um dos três que disputavam uma vaga:
Péricles Bassols, Rafael Traci e Wagner Reway. Os escolhidos foram árbitros do Chile (Julio
Bascunan), Colômbia (Nicolas Gallo), Venezuela (Juan Soto), Uruguai (Leodan
Gonzales) e Argentina (Mauro Vigliano).
Em resumo, o Brasil
vai levar sete árbitros, sendo que de São Paulo vai o trio Raphael Claus,
Danilo Manis e a importada e competente Neuza Back que ocupa a vaga que seria destinada ao VAR.
Quase um século para as mulheres terem vez na arbitragem
Aliás, a seleção das seis mulheres em uma Copa do Mundo quebra um paradigma de 92 anos. Num próximo momento, vamos falar um pouco de cada uma delas... e também quem sabe, pelo andar da carruagem, de uma possível 'Marta' jogando com a 10 da seleção brasileira masculina. Esse dia chegara. Quem viver, verá!
Na Copa, imagino a primeira escala do Raphael Claus, com Danilo Manis, Neuza Back e Wilton Sampaio e na primeira do Sampaio, com Rodrigo Correa, Bruno Boschillia e Claus, na reserva.
Uma escolha técnica
e eles, segundo a Conmebol, foram os melhores para merecer o prêmio de árbitros
mundialistas e aqui registro meus parabéns e desejo de boa sorte a todos para que possam representar dignamente nossa arbitragem na maior competição futebolística do mundo.
Opinião pessoal
Para mim, Raphael Claus é sem duvidas o melhor árbitro do país desde que passou a ostentar o escudo FIFA em 2015. O invejável currículo dele é de conhecimento de todos que estão lendo este post e não preciso descrever. Já Sampaio sempre teve altos e baixos, foi mais mediador que árbitro picotando as partidas ao longo de sua carreira. Felizmente, neste ano vem atuando de forma diferente, com mais coragem e deixando a partida seguir sem paralisar a todo instante e marcando falta por qualquer esbarrão. Portanto a indicação dos dois são merecidas.
Já os assistentes, Neuza Back, a surpresa da lista, sem comentários, seu currículo fala por si. A mulher maravilha, com o perdão do trocadilho por conta da cidade onde ela residiu em Santa Catarina, faz historia e a indicação é mais que merecida. Já o carioca Rodrigo Correa, o mesmo que foi punido por quatro meses pela FIFA por ter esquecido de levar as bandeiras para uma partida das eliminatórias entre Chile e Argentina, foi indicado por meritocracia, pois o ´palmito', como é conhecido na arbitragem, é um excelente assistente. Bruno Pires outra merecida indicação, pois é ótimo assistente. Por sua vez, Bruno Boschilia e Danilo Manis entram na cota do 'estar no lugar certo na hora certa'. São bons assistentes, mas sem cacife o suficiente para uma Copa do Mundo.
Finalizando deixo uma sugestão para o retorno deles: que
suas taxas possam ter um acréscimo de 50% em todos os jogos pelo fato de serem
mundialistas. Isto sim seria um reconhecimento por todo sacrifício deles
durante a carreira e serviria como objetivo a ser alcançado pelos demais que sonham
um dia apitar em uma Copa do Mundo.
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