Por que manipulação da Série B não gera anulação de jogos como 2005? Simples: interesses são outros
MP/GO realizou a operação 'Penalidade Máxima' para investigar esquema de manipulação de resultados em partidas da Série B de 2022 - Foto: MP/GO
O Ministério Público de Goiás
descobriu um esquema de manipulação de lances por apostas em pelo menos três
jogos do Brasileiro da Série B de 2022. Mas esse caso não deve gerar nenhuma
anulação ou remarcação de partidas como ocorreu no caso da máfia do apito no
Brasileiro-2005, em que algumas partidas foram refeitas. Mas há boa
possiblidade para punição dos atletas se comprovadas suas atuações irregulares.
A análise é de dois membros do STJD
ouvidos pelo blog do Rodrigo Mattos/Uol. Na visão desses dois auditores, o CBJD (Código Brasileiro de
Justiça Desportiva) não permite mudanças de resultados após o final da
competição.
A investigação do MP-GO indica a
interferência de jogadores em três jogos: Sampaio Correia x Londrina, Criciúma
x Tombense, Sport x Vila Nova. Houve dois jogadores, de Tombense e Sampaio
Correa, que cometeram pênaltis no primeiro tempo, supostamente com o intuito de
favorecer apostadores. Um atleta do Vila Nova não jogou e não cumpriu o
combinado.
Edilson, na capa da revista Veja - Foto: divulgação/Veja
Pelo artigo de 243, há punições
previstas para envolvidos em caso de manipulação, de multas e a suspensões a
partir de seis meses. E há previsão que, se o resultado for atingido, a partida
pode ser anulada e, portanto, o jogo poderia ser remarcado. Foi o princípio que
levou ao STJD mandar refazer jogos de Inter e Corinthians em 2005, o que acabou
alterando o resultado do Brasileiro.
Mas, segundo auditores do STJD, há um
artigo no CBJD que impede fazer o mesmo com campeonatos já finalizados. O
artigo é o 169B: "Os direitos relacionados às provas, torneios e
campeonatos, salvo os vinculados a infrações disciplinares e aqueles que tenham
prazo diverso estipulado por este Código, estão sujeitos à decadência caso não
sejam exercidos durante a respectiva fase da competição. (Incluído pela
Resolução CNE no 29 de 2009)?
Um dos auditores afirmou que não há
nenhuma chance de anular jogos por conta desse texto. Só o que pode ocorrer é a
punição dos envolvidos, dirigentes ou jogadores, que são submetidos ao código.
Outro auditor disse que, por conta do
mesmo artigo, a partida não poderia ser repetida. Só poderia ser anulada em um
caso muito específico dependo de afetar diretamente o resultado, a tabela. Não
é o caso, pois o Sampaio Correia ganhou o jogo que teve pênalti marcando contra
ele. E o pênalti para o Tombense também não foi convertido.
Nota do
Blog do Marçal
Uma coisa é o que diz a letra fria do CBJD - Código Brasileiro de Justiça Desportiva - e os auditores, muitos deles 'influenciável", do STJD e outra coisa são os interesses dos envolvidos. Dois dias após o escandalo 'Mafia do Apito' ser revelado, Luis Zveiter, então presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, declararou que as partidas sob suspeitas seriam analisadas individualmente, porém, descartou anular os 11 jogos arbitrados até então por Edilson Pereira de Carvalho na Série A do Campeonato Brasileiro daquele ano.
"O jogo só pode ser anulado se o árbitro alcançou o objetivo, que foi manipular o resultado. Não posso anular Juventude e Figueirense em que o árbitro entrou para dar a vitória ao Juventude e não conseguiu. Não posso prejudicar o Figueirense e favorecer agora ao árbitro. Mas a comissão vai analisar muito bem cada caso" - disse Zveiter ao Programa Bem, Amigos! do SporTV.
Luiz Zveiter anuncia anulação dos 11 jogos apitados por Edilson - Foto: Ivo Gonzalez
Contrariando o que tinha dito, no dia 2 de outubro, domingo, Zveiter anunciou a anulação dos 11 jogos apitados por Edilson no Brasileiro da Série A de 2005, e a repetição dessas partidas. A argumentação de Zveiter era de que todos os jogos apitados por Edilson, com interferência clara ou não, já estavam contaminados. Entretanto, o mesmo critério não foi aplicado a nenhum jogo do Campeonato Paulista, nem da série B do Brasileirão, onde Paulo José Danelon, outro árbitro envolvido, havia apitado quatro jogos. Naquele ano, se os jogos da Série B fossem anulados, o Vitória poderia ter sido salvo do rebaixamento à Série C e o Vila Nova poderia entrar na zona de classificação para a segunda fase.
O fortissimo borburinho na ocasião apontava a forte movimentação, nos bastidores, da MSI, então parceira do Corinthians, comandada pelo iraniano Kia Joorabchian - ligado ao milionário russo Boris Berezovsky que supostamente pertencia a mafia russa -. O dirigente da patrocinadora do Corinthians viu a oportunidade para anular todos os jogos apitados por Edilson e assim dar chance a equipe de reverter dois resultados adversos e não teria economizado argumentos e nem recursos para conseguir seus objetivos.
Infleuenciado, convencido sabe-se lá como, ou não, foi essa a decisão de Zveiter que determinou a anulação e remarcação dos 11 jogos arbitrados pelo árbitro paulista, como muitos, conhecendo a fundo o protagonismo e expertise do dirigente em decidir conforme seus interesses, ja esperavam. Em um dos jogos repetidos, uma verdadeira confusão foi deflagrada. O Santos havia vencido o Corinthians por 4 a 2, na Vila Belmiro. Na partida remarcada, o Timão venceu por 3 a 2 com um gol de pênalti marcado pelo árbitro Cleber Wellington Abade. A revolta tomou conta da torcida, que tentou invadir o gramado.
Na outra partida, das duas entre as onze remarcadas, o Corinthians, que havia perdido por 3 a 2 para o São Paulo, arrancou empate sendo o principal beneficiado, que com os 4 pontos ganhos na repetição dos confrontos, passou a liderar a competição. Abaixo, os jogos anulados e o resultado das repetições:
Não se pode fazer acusações sem provas e esse não é o intuito desse post, mas em uma analise fria, fica a sensação que a decisão de anular os jogos e o resultado final do Campeonato Brasileiro de 2005 foi, possivelmente, tramada e decidida nos bastidores possivelmente mudando o resultado final e mancahndo a competição, mas não só por conta dos desvios dos homens do apito como todos pensam.
Possivelmente os interesses menores desse ano, ja que os grandes clubes - Grêmio, Cruzeiro, Bahia e Vasco, três deles administrados por SAFs, que disputaram a competição e subiram para a Série A, e os clubes restantes e os personagens que atuam nos bastidores, são os fatores determinantes para a grande diferença do desfecho totalmente diferente de 2005.
Mas que sirve de alerta, pois com a chegada das casas de apostas patrocinando clubes, com as portas abertas nas federações e consequentemente na arbitragem, escandalos como o de 2005 (Máfia do apito) e as recentes denuncias de manipulação de resultados se tornarão frequentes e todos os segmentos do futebol não esta imune e a questão não é saber se chegara á arbitragem, mas sim quando.
Paulo José Danelon, um dos envolvidos na 'Mafia do apito' - Foto: Djalma Vassao/Gazeta Press.
Com informaçoes: Rodrigo Mattos - Uol Esportes