Assédio sexual e moral, espionagem e armas em eleição: a verdadeira
face da CBF
Um Big Brother no escritório do presidente com câmeras
espionando funcionários, diretores, gerentes, mídia e treinadores. A pesada
presença da polícia armada à vista no dia da eleição para intimidar oponentes
políticos. Máfia? Bem vindo à CBF
Ednaldo Rodrigues - Foto crédito: Nayra Halm/Fotoarena
Mais uma acusação contra o atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ednaldo Rodrigues, surge como uma bomba no meio do futebol internacional. De acordo com o jornalista Lucio de Castro, através de sua Agência Sportlight, em parceria com o portal internacional investigativo, “The Inquisitor”, o gestor baiano está envolvido no que talvez seja o maior escândalo já revelado no interior da entidade: espionagem e assédios moral e sexual.
O jornalista revelou as artimanhas de alguns
dirigentes da CBF e relatou os bastidores da entidade.
Veja a matéria na integra abaixo.
Um Big Brother montado na
sala do presidente com câmeras espionando funcionários e diretores. Policiais à
paisana armados atuando em dia de eleição para intimidar adversários políticos.
Parece a crônica de um filme de máfia. Mas não é. São os bastidores da
Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Episódios ocorridos na
atual gestão, do presidente Ednaldo Rodrigues. Tudo isso está em registros
judiciais, policiais e do comitê de ética da própria CBF. No fim de 2022, boa
parte da estrutura e dos funcionários da CBF havia se mudado temporariamente
para o Catar, onde seria realizada a Copa do Mundo.
Com a sede da Barra da
Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, praticamente vazia, Haroldo Aguiar, um
dos responsáveis pela área de TI, saiu de seu posto de trabalho e deixou a tela
do computador aberta na página do WhatsApp.
Ao passar pela mesa, um
funcionário do departamento de Infraestrutura e Patrimônio viu três mensagens
enviadas em sequência às 13h57 do dia 10 de outubro daquele ano:
"Câmeras escondidas
no restaurante".
"Envia para o setor
de compras"?
"Boa tarde".
O autor da ordem: Ricardo
Lima, presidente da Federação Bahiana de Futebol e concunhado do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.
O responsável pelo
flagrante entendeu rapidamente a dimensão do que viu e fotografou a tela.
Não havia dúvidas: o
presidente da maior entidade do futebol brasileiro, uma das mais importantes
instituições do esporte mundial, estava montando um esquema de espionagem de
seus funcionários e diretores em plena sede.
Um Watergate moderno, um
Big Brother sem consentimento de funcionários.
Dois meses depois da
ordem, vieram as férias coletivas na sede da Barra da Tijuca, como todo ano em
dezembro, época em que o futebol brasileiro para por um mês. Sem funcionários
na CBF, a ordem presidencial para instalação de câmeras de espionagem foi fácil
de ser cumprida.
A ideia parecia perfeita:
escondidas nos detectores de fumaça do restaurante, com áudio e imagem. As
conversas e os segredos de funcionários, dirigentes, visitantes, políticos que
ali frequentam, jornalistas, treinadores.
Pouco tempo depois da
instalação das câmeras para espionagem, uma obra na sede possibilitou que Luísa
Rosa, então diretora de infraestrutura e patrimônio da CBF, e sua equipe,
identificassem o aparato: cinco câmeras estrategicamente postas em compartimentos
falsos de detectores de fumaça, confirmando a foto do e-mail feita pelo autor
do flagrante da ordem de instalação.
Em uma sala de reunião
cujo acesso era exclusivo para o presidente e um segurança pessoal, a última
surpresa, a cena final: na tela do computador da mesa de Ednaldo Rodrigues, o
controle de todas as câmeras.
Muito mais do que isso: o
controle de parte das conversas de pessoas chaves do mundo do futebol
brasileiro.
Denúncia de assédio na
justiça
O inacreditável Big
Brother está relatado em um processo em andamento do Tribunal Regional do
Trabalho (TRT) que corre em segredo de justiça e ao qual a reportagem teve
acesso, protocolado em 21 de dezembro de 2023, por parte da ex-diretora Luísa
Rosa.
Luísa Rosa foi diretora de patrimônio da CBF — Foto: Thais Magalhães/CBF
O processo na justiça vai
muito além do assédio por espionagem do presidente da CBF. Nela, a executiva
pede a condenação da CBF e indenização por assédio moral, sexual e
discriminação por gênero.
Na peça judicial, a
diretora descreve em detalhes o que passou nos três anos em que trabalhou na
entidade, afirmando que a CBF "resolveu envolvê-la em uma jogada de
marketing, alçando-a como "a primeira mulher diretora da CBF", mas,
como dito a exaustão, não mais se tratou de uma ilusão, a autora era diminuída,
objeto de piadas de cunho sexual, chamada para sair por outros integrantes da
diretoria...", anexando na peça judicial inúmeras mensagens ilustrando os
fatos e afirmando ter sido "vítima de assédio moral e sexual".
O pedido é sustentado
principalmente pelos relatos das relações da ex-diretora com três executivos da
CBF: o presidente Ednaldo Rodrigues, Rodrigo Paiva (diretor de comunicação) e
Arnoldo Nazareth (gerente geral operacional e presidente da federação do
Amazonas).
Nos relatos sobre o
assédio moral em que denuncia o presidente, descreve que a CBF é um ambiente
onde "assediar (independentemente da natureza do assédio) pessoas seria
uma regra geral de conduta da CBF comandada por Ednaldo Rodrigues" e que,
em sua gestão, o dirigente "instaurou um verdadeiro ambiente de assédio na
entidade. Não impressiona, portanto, que mais da metade dos funcionários da CBF
teriam medo de retaliações por denúncias".
No processo, a
ex-diretora de infraestrutura e patrimônio descreve a atuação do diretor de
comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, assim:
"O referido diretor
sempre se mostrou extremamente solícito e amoroso com a autora, em quem passou
a confiar como se de fato fosse um 'amigo', um apoio dentro da empresa em que
sofria todo tipo de assédio, ele passou a demonstrar-se sempre preocupado e
disponível. Entretanto, a autora encontrava-se tão fragilizada que não percebeu
que essa relação também era de assédio, demonstrando-se, pelas trocas de
mensagem em anexo, onde sempre era tratada por 'linda', 'anjo', convidada a
encontrá-lo em cafés e bares no Leblon (onde ambos residiam), além de
reconhecer o ambiente doentio no qual vivia...".
Nas reproduções anexadas,
exibe mensagem em que Rodrigo Paiva diz que "você é linda por dentro e por
fora". Conta também que ele a enaltecia em mensagens, "enviando notas
de elogio e falando mal de colegas e do próprio presidente, aproveitando-se da
sua fragilidade".
Em outro momento, relata
que o "diretor Rodrigo Paiva, como sempre fazia, sugere um encontro fora
da CBF, no Leblon, ela novamente nega, insistindo que quer conversar com ele
urgente, mas no local de trabalho ele se diz ocupado".
As reproduções de
mensagens trocadas com Rodrigo Paiva ocupam exatas 89 páginas de um total de
475 do processo. Ou seja, 18,74% da peça abordam a atuação do Diretor de
Comunicação. Outras citações sobre o executivo, além da reprodução de
mensagens, estão espalhadas por mais 7 páginas.
Em uma dessas citações, a
executiva cita coação por parte de Rodrigo Paiva. O diretor se mostra
preocupado com a possibilidade de ser denunciado de assédio por ela, segundo a
autora do processo.
Coação
"...No dia seguinte
à justiça decidir-se pelo afastamento do então presidente Ednaldo, o sr Rodrigo
Paiva liga para a autora, ciente de todos os seus atos e não mais ocupando um
cargo de prestígio que possuía na ré (CBF), questionando se a mesma iria
acusá-lo de assédio, mais uma vez tentando coagi-la, em 5 minutos em que falou
e pouco ouviu, pois desta feita não surtiu mais qualquer efeito".
Em diversas mensagens de
WhatsApp de diálogos com Rodrigo Paiva anexadas ao processo estão repetidos
recados em que ele chama a interlocutora de "linda",
"anjo", e faz elogios. E diversos convites para encontros. De acordo
com a autora, sempre para se encontrarem fora da CBF.
No dia 3 de setembro de
de 2022, Rodrigo Paiva se mostra solicito. "Quando estiver chateada, estou
aqui".
Já no dia 1 de fevereiro
de 2023, quando sugere para que se encontrem. "Vamos nos ver. Longe de lá.
Beijos".
Pouco tempo depois, no
dia 10 de fevereiro, o diretor de comunicação é mais ostensivo: "Sei que
amigo de trabalho não pode falar certas coisas. Mas é coisa boa...Hoje você
estava muito elegante e bonita".
Mensagens repetidas, como
a de 13 de abril de 2023: "Pensei muito em você ontem". No mesmo dia,
ainda envia "Te admiro" e "você é linda por dentro e por
fora".
17 de abril de 2023:
"Estava pensando em você aqui. Quando a conversa flui fica na nossa
cabeça. Sou experiente, inteligente e do bem; além de modesto..KKK. Tudo o que
você me falou só serve para nos aproximarmos e nos ajudarmos. Fica tranquila,
você confiou na pessoa certa".
18 de abril de 2023:
"Beijo. Amanhã te escrevo para saber como está. Linda! Muita paz!".
20 de abril de 2023:
"Tá no Leblon ainda"?
25 de abril de 2023:
"Você está bem? Não né? Estou preocupado com você. Está difícil. Achei que
você ia chorar".
Ainda 25 de abril,
Rodrigo Paiva envia um novo "você é linda".
31 de maio de 2023:
"vamos conversar no nosso bairro".
Em inúmeras outras
mensagens anexadas pela executiva, mostra atenção e elogia diversas vezes:
"Presto atenção em
tudo o que você fala".
"Anjo".
"oi linda. Está tudo
muito chato, vamos falar depois".
"vamos nos ver no
nosso bairro".
"Pensei muito em
você ontem. Imaginei como estava. Só bobeira".
Rodrigo Paiva - Imagem: UOL
A ex-diretora da CBF cita
também cita Arnoldo Nazareth por assédio. Como no dia 6 de março de 2023,
quando o dirigente da Federação do Amazonas envia mensagem dizendo que ela
"estava bem linda".
Há o relato também sobre
a necessidade de confrontar o gerente em relação a assinaturas de pagamentos
para empresas de construção para a obra em andamento na sede por ele indicadas,
assim como para pagar o motorista que atendia a ele, pago com verba da CBF.
CRONOLOGIA
Como não concordou em
referendar as empresas escolhidas pelo gerente e os pagamentos respectivos,
descreve que ela e os funcionários ligados a equipe por ela comandada passaram
a sofrer represálias no tratamento.
Um documento público,
escondido entre os milhares de registros da polícia militar de Alagoas, estado
do nordeste brasileiro, é um ótimo retrato do ambiente em que o futebol
brasileiro é comandado e de como os rumos do até aqui futebol mais vitorioso da
história das copas do mundo são decididos.
O Boletim Nº 005 de 6 de
janeiro de 2023, assinado pelo Coronel Paulo Amorim Feitosa Filho, comandante
geral da polícia militar de Alagoas, expõe as vísceras da entidade que comanda
o futebol do futebol brasileiro e os homens que estão no poder.
Entre policiais à paisana
armados, intimidação e ameaças, o futuro do futebol pentacampeão do mundo é
decidido.
Intimidação armada
No dia 23 de março de 2022, dia da Assembleia Geral Eleitoral que se reuniu para eleger o novo presidente da entidade, algumas horas antes do início da votação para presidente da CBF, Gustavo Feijó, ex-prefeito de uma cidade de Alagoas e da federação de futebol do mesmo estado, até aquele momento vice-presidente da CBF, sentou na mesa que estava em cima do palco, exatamente no lugar que era destinado para Ednaldo Rodrigues e avisou que a eleição não seria realizada. Depois de algum tempo, o impasse se resolveu e Ednaldo Rodrigues, até então aliado e agora inimigo, foi eleito, contrariando Feijó, que pretendia impedir o pleito. Estavam presentes todos os presidentes dos 40 clubes das duas principais divisões do futebol brasileiro e os presidentes de federações dos estados.
Provavelmente não viram o que aconteceu nos bastidores.
Através do boletim da polícia militar de Alagoas, é possível entender o tamanho da degradação da entidade.
Instaurado a partir de um relatório interno da CBF, o boletim relata que o vice-presidente Gustavo Feijó compareceu a sede da CBF no dia da eleição acompanhado de seis homens. Dos quais, três eram seguranças e estariam portando armas na assembleia.
Dos três, um era soldado aposentado da polícia militar do estado do Rio de Janeiro, um era bombeiro do corpo de bombeiros do estado de Alagoas e o outro era policial do estado de Alagoas.
Este último foi identificado pela corregedoria da polícia de Alagoas como o primeiro sargento Arnaldo da Silva. A investigação existe porque a polícia de Alagoas procura entender eventuais irregularidades cometidas pelo soldado do seu quadro de funcionários.
De acordo com o corregedor, é preciso apurar a presença e a atitude de intimidação do sargento, o que justificaria a "instauração de processo administrativo disciplinar com vistas a apurar as condutas do acusado, que insistiu em permanecer em recinto de instituição portando, supostamente, arma de fogo, e mesmo após ser convidado a retirar-se não o fez, causando embaraço ao evento, agindo de forma intimidante, utilizando-se da condição de policial militar para subjugar o convite de retirada".
A reportagem tentou contato com Gustavo Feijó mas não conseguiu. No entanto, no inquérito da polícia de Alagoas, ele nega a presença de homens armados. Interrogado como testemunha na peça, o então vice-presidente da CBF confirmou que estava presente na assembleia eleitoral da CBF pelo cargo que ocupava, e que, como tinha em seu poder liminar judicial para suspender a eleição, compareceu. Mas negou a companhia de policiais, afirmando que eram "alguns amigos".
O impasse só se resolveu quando os militares foram abordados por equipe de segurança da CBF. Para não ter que apresentar nomes e o registro das armas, e confirmar a numeração dos armamentos como está no boletim, os policiais se retiraram para a sala do então vice-presidente, o gabinete 302 do prédio da CBF e só assim a eleição se realizou.
Os escândalos da gestão Ednaldo Rodrigues não são fatos isolados. A retrospectiva sobre os últimos presidentes da CBF mostram um problema estrutural da entidade que comanda o futebol brasileiro.
Os sete últimos presidentes da CBF foram protagonistas de escândalos. Desde 1989, com Ricardo Teixeira no comando. O dirigente ficou até 2012, quando alegou questões de saúde para deixar o cargo. Na verdade, estava pressionado por uma série de investigações de corrupção. Em 2015, foi um dos protagonistas do Fifagate, o episódio que abalou o futebol mundial. Em 2019, foi banido do esporte pela Fifa, após o comitê de ética da entidade constatar o recebimento de propina por parte do dirigente.
Foi sucedido por José Maria Marin, de 2012 a 2015, ano em que foi preso na Suíça por envolvimento no Fifagate. Em 2017, Marin foi julgado e considerado culpado em seis de sete acusações envolvendo fraude e lavagem de dinheiro e cumpriu prisão domiciliar nos Estados Unidos até 2020.
Em seu lugar, entrou Marco Polo Del Nero (2015/2017), afastado do cargo pela Fifa em dezembro de 2017, sob denúncias de corrupção da Justiça norte-americana. No ano seguinte, Del Nero foi banido pela Fifa, responsabilizado por suborno, corrupção e outras infrações.
Em 2017, Antônio Carlos Nunes de Lima, o coronel Nunes assumiu a CBF de forma interina mas ficou até 2019. O coronel é beneficiário de indenização para anistiados políticos, reparação para aqueles que foram "vítima de ato de exceção de motivação política" nos anos da ditadura militar no Brasil (1964-1985). No entanto, uma reportagem revelou que, na verdade, o benefício é uma fraude, já que o militar não foi vítima de ato de exceção da ditadura e sim comandante de instituições que estiveram envolvidas em atos de tortura de inimigos políticos dos militares.
Em 2019, Rogério Caboclo assumiu e foi até 2021, então afastado do cargo por denúncias de assédio sexual de uma funcionária da CBF. Por ser o mais velho eleitor do colegiado de dirigentes que compõe o colégio eleitoral, o coronel Nunes voltou a assumir de forma interina, ficando até 2021, quando Ednaldo Rodrigues assumiu de forma interina até 23 de março de 2022, data da assembleia eleitoral citada nesta reportagem, quando foi eleito presidente.
Em dia 7 de dezembro de 2023 foi afastado do cargo após suspeitas de irregularidades na eleição em que venceu.
No dia 4 de janeiro último, foi reconduzido ao cargo em decisão monocrática do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. A decisão ainda será analisada pelo plenário do STF.
Lucio Castro - Imagem: Arquivo pessoal
Outro lado
A reportagem enviou
pedido de resposta sobre os temas abordados para a CBF, os dirigentes e também
para o diretor de comunicação Rodrigo Paiva.
A CBF enviou a resposta
abaixo:
"A arquiteta Luísa
Xavier Rosa foi promovida à diretora de Patrimônio e Infraestrutura da CBF em
abril de 2022, por mérito, devido ao competente trabalho que vinha executando
na gerência do departamento e aos resultados apresentados, bem como ao
interesse da colaboradora em ascender na carreira, formalizado pela própria em
e-mail enviado à presidência àquela época. Ela permaneceu no cargo até deixar a
confederação, em julho passado, e foi bem sucedida nas missões a ela confiadas,
essenciais à estrutura de apoio do futebol no país.
A Confederação Brasileira
de Futebol possui uma estrutura complexa de administração, cuja gestão é
compartilhada por 11 diretorias encarregadas desde a gerência de clubes e dos
campeonatos até a estrutura física de suas várias instalações, função esta que
era delegada a Luísa.
Assim, as agendas dos
gestores com o presidente obedecem a critérios variados, como urgência,
disponibilidade e presença do dirigente na sede. Reuniões dinâmicas e
compartilhadas com outros diretores não são raras e nem se aplicam
exclusivamente a determinado setor. São impositivas para agilizar decisões,
otimizar agendas e compartilhar impactos com outros setores eventualmente
afetados. No mais, comunicações por e-mail, telefone ou WhatsApp sempre foram
prontamente atendidas pelo presidente.
Sobre as denúncias em
tela, importante esclarecer que Luísa Xavier Rosa apresentou queixa à Comissão
de Ética do Futebol Brasileiro e à Diretoria de Governança e Conformidade da
CBF em maio de 2023, relatando que o então gerente de manutenção, Arnoldo
Nazareth, estaria interferindo no processo de contratação de uma empreiteira,
função que seria exclusiva ao seu cargo. A denúncia foi prontamente acolhida
pela diretoria e, apenas dois dias depois, a diretora foi formalmente informada
que deveria suspender o contrato questionado e escolher outra empresa para
concluir os trabalhos, e que constituiria um procedimento interno para apurar
suas alegações.
A investigação, conduzida
pelo Conselho de Governança Corporativa da entidade, seguiu critérios rígidos
de ética e diligência e concluiu, conforme registra o relatório final, que as
denúncias não tinham respaldo em documentos ou nos relatos de testemunhas e
colegas de trabalho. Note-se que não há, na denúncia em questão, qualquer
menção à ocorrência de assédio sexual, sendo sua queixa exclusivamente
relacionada à sobreposição de funções.
O processo de
desligamento da arquiteta da CBF seguiu procedimento padrão, acompanhado pelo
técnico de informática e por uma gestora de Recursos Humanos, que prestou apoio
à ex-diretora, inclusive emocional. Luísa teve acesso ao seu computador antes
de devolvê-lo e pôde copiar, selecionar e salvar todos os arquivos e documentos
que achasse necessários.
Expostos os fatos, vale
ressaltar que a CBF repudia veementemente qualquer tipo de assédio moral ou
sexual dentro e fora de suas dependências. Desde que assumiu a presidência, em
2021, e diante de um histórico recente de acusações do tipo, Ednaldo Rodrigues
tem envidado todos os esforços para colocar a entidade e o futebol brasileiro
em linha com as melhores práticas de governança, incluindo equidade, isonomia,
integridade e respeito.
Parte desse esforço foi a
implementação, no início de 2023, do Programa de Combate e Prevenção à Qualquer
Discriminação no Ambiente de Trabalho, com o objetivo de identificar
fragilidades, combater comportamentos impróprios e educar para a prevenção de assédios.
O programa é desenvolvido por uma empresa profissional terceirizada.
Atualmente, a CBF tem 100% da sua equipe treinada a respeito do tema.
A fase atual é a de
discussão e implantação de um Código de Ética e Conduta específico para o corpo
funcional e de implantação de um canal de denúncia externo, com garantia do
anonimato. Segundo o diagnóstico inicial, a CBF tem hoje no seu quadro 52,73%
de homem cisgênero e 42,27% de mulher cisgênero, além de 6,82% que se
identificam como pertencentes à comunidade LGBTQIAPN+. O esforço segue no
sentido de aproximar ainda mais os indicadores de gênero e proporcionar
segurança, conforto e tratamento digno e respeitoso a todos os
colaboradores".
Luísa Rosa
A reportagem
enviou pedido de resposta para a ex-diretora de patrimônio e infraestrutura da
CBF, Luísa Rosa diretamente e ainda para a advogada que a representa na ação
que move contra a CBF, Cyntia Sussekind Rocha, sem resposta.
Gustavo Dantas Feijó
A
reportagem não obteve contato com o ex-vice-presidente da CBF. Em caso de
contato, atualizaremos a publicação.