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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Morte de Marco Martins deixa inúmeros órfãos, inclusive eu

A selfie tirada em sua casa é a que retrata mais fielmente nossa relação de irmãos

Na manhã do ultimo sábado (17), um infarto fulminante tirou a vida do meu grande amigo e irmão Marco Antônio Martins, aos 57 anos de idade. Ironicamente, Martins tinha feito check-up geral da saúde pouco dias atrás sem apresentar qualquer problema além dos normais para a idade.

Marco sentiu dores no peito, foi socorrido pela esposa, mas no caminho para hospital sofreu infarto e veio a óbito. No hospital ainda tentaram reanima-lo, mas as tentativas foram em vão e assim, deixou a esposa, duas filhas e uma legião de pessoas que o amavam.

Marco deixa a esposa (Rosilene), duas filhas (Barbara e Isadora) e inúmeros órfãos, inclusive eu.

Com ele na feira do mês...
Recebi a infeliz noticia no sábado de manhã, pouco depois de sua morte. Estava no município de Rio Formoso, em Pernambuco e decidimos, eu e Salmo Valentim, também amigo pessoal e de longa data de Martins, viajar para o velório. A logística não foi fácil, pois estávamos do outro lado do país e levamos mais de 24 hs, de voo e conexões, para chegar dez minutos antes do enterro. Praticamente não dormimos e não nos alimentamos, mas conseguimos chegar a tempo de prestar nossa ultima homenagem ao nosso amigo-irmão de tantas caminhadas.

Nos últimos 15 anos tive o privilégio de conviver longos períodos ao lado dele, tanto na vida profissional como na pessoal e pude testemunhar seu lado humano, seu caráter, seu profissionalismo, seu comprometimento e a garra com que enfrentou e venceu todas as dificuldades que a vida apresentou.

Líder exemplar, politico nato, conciliador e hábil negociador, combateu o bom combate, ganhou e perdeu batalhas, mas nunca deixou um soldado para trás. 

No churrasco...

Quem era Marco Antônio Martins

Profissional experiente, principalmente como árbitro assistente, Marco Antônio encerrou a sua carreira nos campos em 2011, depois de atuar por 15 anos no quadro da FCF e por 10 anos no quadro da CBF. Durante a carreira, além de atuar como assistente, foi presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado de Santa Catarina (Sinafesc) e da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (ANAF).

Na FCF, assumiu a função de diretor do Departamento de Arbitragem em junho de 2017, cargo que exercia até sua morte. Em 2018 foi eleito vice-presidente da entidade e reeleito em 2022.

Fora da arbitragem era servidor público concursado - técnico-administrativo em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) onde atuava no Centro de Desportos (CDS). Na UFSC iniciou sua trajetória na Prefeitura Universitária, atuou também como secretário e coordenador administrativo no Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) e foi diretor administrativo da Secretaria de Esportes.

e com a esposa Rose

Velório

As 18hs do sábado (17) teve início o velório no Cemitério do Itacorubi, em Florianópolis, onde foi sepultado as 11 horas do domingo (18), no jazigo da família.

O velório e sepultamento foi triste, mas emocionante pela pessoa que foi e pelo legado deixado por Martins. Centenas de pessoas compareceram ao velório e ao enterro. Além de parentes, amigos e toda arbitragem local, auditores do TJD/SC, dirigentes da FCF liderados pelo presidente Rubens Angelotti, vários dirigentes e amigos de outros estados estiveram presente. Entre eles Sérgio Corrêa, ex-presidente da comissão nacional de arbitragem da CBF, Salmo Valentim, ex-árbitro e atual presidente da ANAF (Associação Nacional dos Árbitros de Futebol), Giulliano Bozzano, ex-árbitro aspirante FIFA e atual membro da CNA-CBF, Rafael Bozzano, sub-procurador do STJD, Márcio Coruja, ex-árbitro CBF do RS entre outros.

Eu, que também estive no velório, particularmente perdi não só um amigo, mas um irmão que estava comigo nas horas boas, mas que nunca me abandonou nas ruins e em muitas vezes delas confesso, chateado e bravo comigo.

Tomando café da manhã com elas - Isadora, Rose e Bahhh

Mesma a perda sendo dolorosa, o que fica são os momentos que vivi intensamente ao lado de Marco Martins que muitas vezes foi sim meu provedor, meu conselheiro, que me deu a honra e a confiança para conviver em seu lar com sua linda família, mas ao mesmo tempo me cobrava o tempo todo boas atitudes e bons exemplos como alias, todo bom amigo deve fazer.

Enlutado deixo meu pesar por esta morte precoce à esposa, minha amiga Rose, e a suas duas lindas filhas, Barbara e Isadora, que ele tanto amava.  

Descanse em paz meu irmão.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Assédio sexual e moral, espionagem e armas em eleição: a verdadeira face da CBF

Um Big Brother no escritório do presidente com câmeras espionando funcionários, diretores, gerentes, mídia e treinadores. A pesada presença da polícia armada à vista no dia da eleição para intimidar oponentes políticos. Máfia? Bem vindo à CBF

Ednaldo Rodrigues - Foto crédito: Nayra Halm/Fotoarena

Mais uma acusação contra o atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ednaldo Rodrigues, surge como uma bomba no meio do futebol internacional. De acordo com o jornalista Lucio de Castro, através de sua Agência Sportlight, em parceria com o portal internacional investigativo, “The Inquisitor”, o gestor baiano está envolvido no que talvez seja o maior escândalo já revelado no interior da entidade: espionagem e assédios moral e sexual.

O jornalista revelou as artimanhas de alguns dirigentes da CBF e relatou os bastidores da entidade. 

Veja a matéria na integra abaixo.

Um Big Brother montado na sala do presidente com câmeras espionando funcionários e diretores. Policiais à paisana armados atuando em dia de eleição para intimidar adversários políticos. Parece a crônica de um filme de máfia. Mas não é. São os bastidores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Episódios ocorridos na atual gestão, do presidente Ednaldo Rodrigues. Tudo isso está em registros judiciais, policiais e do comitê de ética da própria CBF. No fim de 2022, boa parte da estrutura e dos funcionários da CBF havia se mudado temporariamente para o Catar, onde seria realizada a Copa do Mundo.

Com a sede da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, praticamente vazia, Haroldo Aguiar, um dos responsáveis pela área de TI, saiu de seu posto de trabalho e deixou a tela do computador aberta na página do WhatsApp.

Ao passar pela mesa, um funcionário do departamento de Infraestrutura e Patrimônio viu três mensagens enviadas em sequência às 13h57 do dia 10 de outubro daquele ano:

"Câmeras escondidas no restaurante".

"Envia para o setor de compras"?

"Boa tarde".

O autor da ordem: Ricardo Lima, presidente da Federação Bahiana de Futebol e concunhado do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.

O responsável pelo flagrante entendeu rapidamente a dimensão do que viu e fotografou a tela.

Não havia dúvidas: o presidente da maior entidade do futebol brasileiro, uma das mais importantes instituições do esporte mundial, estava montando um esquema de espionagem de seus funcionários e diretores em plena sede.

Um Watergate moderno, um Big Brother sem consentimento de funcionários.

Dois meses depois da ordem, vieram as férias coletivas na sede da Barra da Tijuca, como todo ano em dezembro, época em que o futebol brasileiro para por um mês. Sem funcionários na CBF, a ordem presidencial para instalação de câmeras de espionagem foi fácil de ser cumprida.

A ideia parecia perfeita: escondidas nos detectores de fumaça do restaurante, com áudio e imagem. As conversas e os segredos de funcionários, dirigentes, visitantes, políticos que ali frequentam, jornalistas, treinadores.

Pouco tempo depois da instalação das câmeras para espionagem, uma obra na sede possibilitou que Luísa Rosa, então diretora de infraestrutura e patrimônio da CBF, e sua equipe, identificassem o aparato: cinco câmeras estrategicamente postas em compartimentos falsos de detectores de fumaça, confirmando a foto do e-mail feita pelo autor do flagrante da ordem de instalação.

Em uma sala de reunião cujo acesso era exclusivo para o presidente e um segurança pessoal, a última surpresa, a cena final: na tela do computador da mesa de Ednaldo Rodrigues, o controle de todas as câmeras.

Muito mais do que isso: o controle de parte das conversas de pessoas chaves do mundo do futebol brasileiro.

Denúncia de assédio na justiça

O inacreditável Big Brother está relatado em um processo em andamento do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) que corre em segredo de justiça e ao qual a reportagem teve acesso, protocolado em 21 de dezembro de 2023, por parte da ex-diretora Luísa Rosa.

Luísa Rosa foi diretora de patrimônio da CBF — Foto: Thais Magalhães/CBF

O processo na justiça vai muito além do assédio por espionagem do presidente da CBF. Nela, a executiva pede a condenação da CBF e indenização por assédio moral, sexual e discriminação por gênero.

Na peça judicial, a diretora descreve em detalhes o que passou nos três anos em que trabalhou na entidade, afirmando que a CBF "resolveu envolvê-la em uma jogada de marketing, alçando-a como "a primeira mulher diretora da CBF", mas, como dito a exaustão, não mais se tratou de uma ilusão, a autora era diminuída, objeto de piadas de cunho sexual, chamada para sair por outros integrantes da diretoria...", anexando na peça judicial inúmeras mensagens ilustrando os fatos e afirmando ter sido "vítima de assédio moral e sexual".

O pedido é sustentado principalmente pelos relatos das relações da ex-diretora com três executivos da CBF: o presidente Ednaldo Rodrigues, Rodrigo Paiva (diretor de comunicação) e Arnoldo Nazareth (gerente geral operacional e presidente da federação do Amazonas).

Nos relatos sobre o assédio moral em que denuncia o presidente, descreve que a CBF é um ambiente onde "assediar (independentemente da natureza do assédio) pessoas seria uma regra geral de conduta da CBF comandada por Ednaldo Rodrigues" e que, em sua gestão, o dirigente "instaurou um verdadeiro ambiente de assédio na entidade. Não impressiona, portanto, que mais da metade dos funcionários da CBF teriam medo de retaliações por denúncias".

No processo, a ex-diretora de infraestrutura e patrimônio descreve a atuação do diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, assim:

"O referido diretor sempre se mostrou extremamente solícito e amoroso com a autora, em quem passou a confiar como se de fato fosse um 'amigo', um apoio dentro da empresa em que sofria todo tipo de assédio, ele passou a demonstrar-se sempre preocupado e disponível. Entretanto, a autora encontrava-se tão fragilizada que não percebeu que essa relação também era de assédio, demonstrando-se, pelas trocas de mensagem em anexo, onde sempre era tratada por 'linda', 'anjo', convidada a encontrá-lo em cafés e bares no Leblon (onde ambos residiam), além de reconhecer o ambiente doentio no qual vivia...".

Nas reproduções anexadas, exibe mensagem em que Rodrigo Paiva diz que "você é linda por dentro e por fora". Conta também que ele a enaltecia em mensagens, "enviando notas de elogio e falando mal de colegas e do próprio presidente, aproveitando-se da sua fragilidade".

Em outro momento, relata que o "diretor Rodrigo Paiva, como sempre fazia, sugere um encontro fora da CBF, no Leblon, ela novamente nega, insistindo que quer conversar com ele urgente, mas no local de trabalho ele se diz ocupado".

As reproduções de mensagens trocadas com Rodrigo Paiva ocupam exatas 89 páginas de um total de 475 do processo. Ou seja, 18,74% da peça abordam a atuação do Diretor de Comunicação. Outras citações sobre o executivo, além da reprodução de mensagens, estão espalhadas por mais 7 páginas.

Em uma dessas citações, a executiva cita coação por parte de Rodrigo Paiva. O diretor se mostra preocupado com a possibilidade de ser denunciado de assédio por ela, segundo a autora do processo.

Coação

"...No dia seguinte à justiça decidir-se pelo afastamento do então presidente Ednaldo, o sr Rodrigo Paiva liga para a autora, ciente de todos os seus atos e não mais ocupando um cargo de prestígio que possuía na ré (CBF), questionando se a mesma iria acusá-lo de assédio, mais uma vez tentando coagi-la, em 5 minutos em que falou e pouco ouviu, pois desta feita não surtiu mais qualquer efeito".

Em diversas mensagens de WhatsApp de diálogos com Rodrigo Paiva anexadas ao processo estão repetidos recados em que ele chama a interlocutora de "linda", "anjo", e faz elogios. E diversos convites para encontros. De acordo com a autora, sempre para se encontrarem fora da CBF.

No dia 3 de setembro de de 2022, Rodrigo Paiva se mostra solicito. "Quando estiver chateada, estou aqui".

Já no dia 1 de fevereiro de 2023, quando sugere para que se encontrem. "Vamos nos ver. Longe de lá. Beijos".

Pouco tempo depois, no dia 10 de fevereiro, o diretor de comunicação é mais ostensivo: "Sei que amigo de trabalho não pode falar certas coisas. Mas é coisa boa...Hoje você estava muito elegante e bonita".

Mensagens repetidas, como a de 13 de abril de 2023: "Pensei muito em você ontem". No mesmo dia, ainda envia "Te admiro" e "você é linda por dentro e por fora".

17 de abril de 2023: "Estava pensando em você aqui. Quando a conversa flui fica na nossa cabeça. Sou experiente, inteligente e do bem; além de modesto..KKK. Tudo o que você me falou só serve para nos aproximarmos e nos ajudarmos. Fica tranquila, você confiou na pessoa certa".

18 de abril de 2023: "Beijo. Amanhã te escrevo para saber como está. Linda! Muita paz!".

20 de abril de 2023: "Tá no Leblon ainda"?

25 de abril de 2023: "Você está bem? Não né? Estou preocupado com você. Está difícil. Achei que você ia chorar".

Ainda 25 de abril, Rodrigo Paiva envia um novo "você é linda".

31 de maio de 2023: "vamos conversar no nosso bairro".

Em inúmeras outras mensagens anexadas pela executiva, mostra atenção e elogia diversas vezes:

"Presto atenção em tudo o que você fala".

"Anjo".

"oi linda. Está tudo muito chato, vamos falar depois".

"vamos nos ver no nosso bairro".

"Pensei muito em você ontem. Imaginei como estava. Só bobeira".

Rodrigo Paiva - Imagem: UOL

A ex-diretora da CBF cita também cita Arnoldo Nazareth por assédio. Como no dia 6 de março de 2023, quando o dirigente da Federação do Amazonas envia mensagem dizendo que ela "estava bem linda".

Há o relato também sobre a necessidade de confrontar o gerente em relação a assinaturas de pagamentos para empresas de construção para a obra em andamento na sede por ele indicadas, assim como para pagar o motorista que atendia a ele, pago com verba da CBF.

CRONOLOGIA

Como não concordou em referendar as empresas escolhidas pelo gerente e os pagamentos respectivos, descreve que ela e os funcionários ligados a equipe por ela comandada passaram a sofrer represálias no tratamento.

Um documento público, escondido entre os milhares de registros da polícia militar de Alagoas, estado do nordeste brasileiro, é um ótimo retrato do ambiente em que o futebol brasileiro é comandado e de como os rumos do até aqui futebol mais vitorioso da história das copas do mundo são decididos.

O Boletim Nº 005 de 6 de janeiro de 2023, assinado pelo Coronel Paulo Amorim Feitosa Filho, comandante geral da polícia militar de Alagoas, expõe as vísceras da entidade que comanda o futebol do futebol brasileiro e os homens que estão no poder.

Entre policiais à paisana armados, intimidação e ameaças, o futuro do futebol pentacampeão do mundo é decidido.

Intimidação armada

No dia 23 de março de 2022, dia da Assembleia Geral Eleitoral que se reuniu para eleger o novo presidente da entidade, algumas horas antes do início da votação para presidente da CBF, Gustavo Feijó, ex-prefeito de uma cidade de Alagoas e da federação de futebol do mesmo estado, até aquele momento vice-presidente da CBF, sentou na mesa que estava em cima do palco, exatamente no lugar que era destinado para Ednaldo Rodrigues e avisou que a eleição não seria realizada. Depois de algum tempo, o impasse se resolveu e Ednaldo Rodrigues, até então aliado e agora inimigo, foi eleito, contrariando Feijó, que pretendia impedir o pleito. Estavam presentes todos os presidentes dos 40 clubes das duas principais divisões do futebol brasileiro e os presidentes de federações dos estados.

Provavelmente não viram o que aconteceu nos bastidores.

Através do boletim da polícia militar de Alagoas, é possível entender o tamanho da degradação da entidade.

Instaurado a partir de um relatório interno da CBF, o boletim relata que o vice-presidente Gustavo Feijó compareceu a sede da CBF no dia da eleição acompanhado de seis homens. Dos quais, três eram seguranças e estariam portando armas na assembleia.

Dos três, um era soldado aposentado da polícia militar do estado do Rio de Janeiro, um era bombeiro do corpo de bombeiros do estado de Alagoas e o outro era policial do estado de Alagoas.

Este último foi identificado pela corregedoria da polícia de Alagoas como o primeiro sargento Arnaldo da Silva. A investigação existe porque a polícia de Alagoas procura entender eventuais irregularidades cometidas pelo soldado do seu quadro de funcionários.

De acordo com o corregedor, é preciso apurar a presença e a atitude de intimidação do sargento, o que justificaria a "instauração de processo administrativo disciplinar com vistas a apurar as condutas do acusado, que insistiu em permanecer em recinto de instituição portando, supostamente, arma de fogo, e mesmo após ser convidado a retirar-se não o fez, causando embaraço ao evento, agindo de forma intimidante, utilizando-se da condição de policial militar para subjugar o convite de retirada".

A reportagem tentou contato com Gustavo Feijó mas não conseguiu. No entanto, no inquérito da polícia de Alagoas, ele nega a presença de homens armados. Interrogado como testemunha na peça, o então vice-presidente da CBF confirmou que estava presente na assembleia eleitoral da CBF pelo cargo que ocupava, e que, como tinha em seu poder liminar judicial para suspender a eleição, compareceu. Mas negou a companhia de policiais, afirmando que eram "alguns amigos".

O impasse só se resolveu quando os militares foram abordados por equipe de segurança da CBF. Para não ter que apresentar nomes e o registro das armas, e confirmar a numeração dos armamentos como está no boletim, os policiais se retiraram para a sala do então vice-presidente, o gabinete 302 do prédio da CBF e só assim a eleição se realizou.

Os escândalos da gestão Ednaldo Rodrigues não são fatos isolados. A retrospectiva sobre os últimos presidentes da CBF mostram um problema estrutural da entidade que comanda o futebol brasileiro.

Os sete últimos presidentes da CBF foram protagonistas de escândalos. Desde 1989, com Ricardo Teixeira no comando. O dirigente ficou até 2012, quando alegou questões de saúde para deixar o cargo. Na verdade, estava pressionado por uma série de investigações de corrupção. Em 2015, foi um dos protagonistas do Fifagate, o episódio que abalou o futebol mundial. Em 2019, foi banido do esporte pela Fifa, após o comitê de ética da entidade constatar o recebimento de propina por parte do dirigente.

Foi sucedido por José Maria Marin, de 2012 a 2015, ano em que foi preso na Suíça por envolvimento no Fifagate. Em 2017, Marin foi julgado e considerado culpado em seis de sete acusações envolvendo fraude e lavagem de dinheiro e cumpriu prisão domiciliar nos Estados Unidos até 2020.

Em seu lugar, entrou Marco Polo Del Nero (2015/2017), afastado do cargo pela Fifa em dezembro de 2017, sob denúncias de corrupção da Justiça norte-americana. No ano seguinte, Del Nero foi banido pela Fifa, responsabilizado por suborno, corrupção e outras infrações.

Em 2017, Antônio Carlos Nunes de Lima, o coronel Nunes assumiu a CBF de forma interina mas ficou até 2019. O coronel é beneficiário de indenização para anistiados políticos, reparação para aqueles que foram "vítima de ato de exceção de motivação política" nos anos da ditadura militar no Brasil (1964-1985). No entanto, uma reportagem revelou que, na verdade, o benefício é uma fraude, já que o militar não foi vítima de ato de exceção da ditadura e sim comandante de instituições que estiveram envolvidas em atos de tortura de inimigos políticos dos militares.

Em 2019, Rogério Caboclo assumiu e foi até 2021, então afastado do cargo por denúncias de assédio sexual de uma funcionária da CBF. Por ser o mais velho eleitor do colegiado de dirigentes que compõe o colégio eleitoral, o coronel Nunes voltou a assumir de forma interina, ficando até 2021, quando Ednaldo Rodrigues assumiu de forma interina até 23 de março de 2022, data da assembleia eleitoral citada nesta reportagem, quando foi eleito presidente.

Em dia 7 de dezembro de 2023 foi afastado do cargo após suspeitas de irregularidades na eleição em que venceu.

No dia 4 de janeiro último, foi reconduzido ao cargo em decisão monocrática do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. A decisão ainda será analisada pelo plenário do STF.

Lucio Castro - Imagem: Arquivo pessoal

Outro lado

A reportagem enviou pedido de resposta sobre os temas abordados para a CBF, os dirigentes e também para o diretor de comunicação Rodrigo Paiva.

A CBF enviou a resposta abaixo:

"A arquiteta Luísa Xavier Rosa foi promovida à diretora de Patrimônio e Infraestrutura da CBF em abril de 2022, por mérito, devido ao competente trabalho que vinha executando na gerência do departamento e aos resultados apresentados, bem como ao interesse da colaboradora em ascender na carreira, formalizado pela própria em e-mail enviado à presidência àquela época. Ela permaneceu no cargo até deixar a confederação, em julho passado, e foi bem sucedida nas missões a ela confiadas, essenciais à estrutura de apoio do futebol no país.

A Confederação Brasileira de Futebol possui uma estrutura complexa de administração, cuja gestão é compartilhada por 11 diretorias encarregadas desde a gerência de clubes e dos campeonatos até a estrutura física de suas várias instalações, função esta que era delegada a Luísa.

Assim, as agendas dos gestores com o presidente obedecem a critérios variados, como urgência, disponibilidade e presença do dirigente na sede. Reuniões dinâmicas e compartilhadas com outros diretores não são raras e nem se aplicam exclusivamente a determinado setor. São impositivas para agilizar decisões, otimizar agendas e compartilhar impactos com outros setores eventualmente afetados. No mais, comunicações por e-mail, telefone ou WhatsApp sempre foram prontamente atendidas pelo presidente.

Sobre as denúncias em tela, importante esclarecer que Luísa Xavier Rosa apresentou queixa à Comissão de Ética do Futebol Brasileiro e à Diretoria de Governança e Conformidade da CBF em maio de 2023, relatando que o então gerente de manutenção, Arnoldo Nazareth, estaria interferindo no processo de contratação de uma empreiteira, função que seria exclusiva ao seu cargo. A denúncia foi prontamente acolhida pela diretoria e, apenas dois dias depois, a diretora foi formalmente informada que deveria suspender o contrato questionado e escolher outra empresa para concluir os trabalhos, e que constituiria um procedimento interno para apurar suas alegações.

A investigação, conduzida pelo Conselho de Governança Corporativa da entidade, seguiu critérios rígidos de ética e diligência e concluiu, conforme registra o relatório final, que as denúncias não tinham respaldo em documentos ou nos relatos de testemunhas e colegas de trabalho. Note-se que não há, na denúncia em questão, qualquer menção à ocorrência de assédio sexual, sendo sua queixa exclusivamente relacionada à sobreposição de funções.

O processo de desligamento da arquiteta da CBF seguiu procedimento padrão, acompanhado pelo técnico de informática e por uma gestora de Recursos Humanos, que prestou apoio à ex-diretora, inclusive emocional. Luísa teve acesso ao seu computador antes de devolvê-lo e pôde copiar, selecionar e salvar todos os arquivos e documentos que achasse necessários.

Expostos os fatos, vale ressaltar que a CBF repudia veementemente qualquer tipo de assédio moral ou sexual dentro e fora de suas dependências. Desde que assumiu a presidência, em 2021, e diante de um histórico recente de acusações do tipo, Ednaldo Rodrigues tem envidado todos os esforços para colocar a entidade e o futebol brasileiro em linha com as melhores práticas de governança, incluindo equidade, isonomia, integridade e respeito.

Parte desse esforço foi a implementação, no início de 2023, do Programa de Combate e Prevenção à Qualquer Discriminação no Ambiente de Trabalho, com o objetivo de identificar fragilidades, combater comportamentos impróprios e educar para a prevenção de assédios. O programa é desenvolvido por uma empresa profissional terceirizada. Atualmente, a CBF tem 100% da sua equipe treinada a respeito do tema.

A fase atual é a de discussão e implantação de um Código de Ética e Conduta específico para o corpo funcional e de implantação de um canal de denúncia externo, com garantia do anonimato. Segundo o diagnóstico inicial, a CBF tem hoje no seu quadro 52,73% de homem cisgênero e 42,27% de mulher cisgênero, além de 6,82% que se identificam como pertencentes à comunidade LGBTQIAPN+. O esforço segue no sentido de aproximar ainda mais os indicadores de gênero e proporcionar segurança, conforto e tratamento digno e respeitoso a todos os colaboradores".

Luísa Rosa 

A reportagem enviou pedido de resposta para a ex-diretora de patrimônio e infraestrutura da CBF, Luísa Rosa diretamente e ainda para a advogada que a representa na ação que move contra a CBF, Cyntia Sussekind Rocha, sem resposta.

Gustavo Dantas Feijó 

A reportagem não obteve contato com o ex-vice-presidente da CBF. Em caso de contato, atualizaremos a publicação.