CBF
desvaloriza Brasileiro ao dar um título ao Galo por mini-torneio
O time do Botafogo já jogou 20 vezes no Brasileiro para acumular 11 pontos na liderança. Ainda está longe de garantir o título pois tem quase um turno inteiro para correr para garantir a taça. Seus adversários serão os maiores times do Brasil e a caminhada será árdua por 38 rodadas.
Agora imaginem um jogador alvinegro que acorda de manhã e lê no noticiário que a CBF reconheceu um título brasileiro do Atlético-MG em um mini-torneio de seis jogos, com o nome de Torneio dos Campeões, disputado com o Rio Branco, de Vitória, Portuguesa, de SP, e Fluminense, em 1937. Uma taça ganha em dois meses.
E esse pensamento vale
para todos os jogadores que disputaram de forma dura o Brasileiro pelos últimos
53 anos desde 1971. Times que enfrentaram campeonatos de fato, longos, contra
os principais times do Brasil, para se sagrarem campeões. No final, seus
esforços foram igualados a meia dúzia de partidas de um min-torneio de verão
esquecido.
"Ah, mas a realidade
era diferente na década de 30" De fato, era. Não havia a possibilidade de
um campeonato nacional, o que levava a disputa de min-torneios sem
representatividade nacional de fato, alguns de seleções, outros de times,
organizados por federações - não havia CBF, nem CBD na época.
O dossiê feito pelo
Atlético-MG - como mostra uma extensa matéria do "Globo Esporte" -
conta a história de um min-torneio que tem o confronto entre os campeões
estaduais de quatro Estados, Rio, São Paulo, Minas e Espírito Santo.
Não há nenhuma
representatividade de times do Sul, do Nordeste, do Centro-Oeste ou do Norte. A
divisão regional do país era diferente, mas não havia equipe nenhuma de Estados
dessas regiões. Não era sequer um mini-torneio de âmbito nacional.
O que havia, sim, eram
equipes irrelevantes para o futebol sob qualquer perspectiva como a Liga da
Marinha e a Aliança Campista. Disputaram uma fase preliminar. Quase que a Liga
da Marinha emplaca um título "Brasileiro" não fosse eliminada pelo
Rio Branco na prévia.
O Atlético-MG ganhou com
jogos de ida e volta um quadrangular, inclusive tomando uma goleada de 6x0 do
Fluminense no Rio. Na partida de volta, o Fluminense abandonou o jogo aos 18min
do segundo tempo quando o Galo vencia por 4x1. Ao final, foi campeão com 9
pontos.
No seu dossiê, também
segundo a matéria do "Globo Esporte", o Galo alega isonomia em
relação ao reconhecimento das Taças Brasil e do Roberto Gomes Pedrosa. Bem, o
reconhecimento da Taças Brasil como Brasileiro já foi sem nenhuma base técnica,
baseado também em dossiê do Santos.
Eram campeonatos que, em
certas edições, os times jogavam quatro vezes e eram campeões. Estavam
classificados por serem campeões estaduais. Seu paralelo é com a Copa do
Brasil, que foi criada para revive-la aliás. São torneios relevantes na sua
época, nunca foram o Brasileiro, nem de perto se assemelham a ele.
O Roberto Gomes Pedrosa,
sim, há uma discussão porque era uma competição mais nacional, com mais jogos
disputados. E foi a base para a formação do que se convencionou chamar de
Brasileiro. Ainda assim, era um campeonato proporção menor do que se instalou
em 1971. Não deveriam ser reconhecidos também na modesta opinião desta blog
diante dos fatos históricos. Porém, é uma posição bem defensável de quem os
quer incluir no rol de Nacionais.
Na realidade, Ricardo
Teixeira, em 2010, deu uma canetada e reconheceu esses títulos por mera
política. Havia uma disputa em curso no Clube dos 13, primeiro por eleição,
depois por poder na entidade. E a CBF queria atrair clubes para o seu grupo,
que tinha Kléber Leite à frente, contra Fábio Koff. Ao distribuir títulos,
agradava vários clubes e os trazia para seu lado. O C13, no qual Koff ganhou a
eleição, acabou implodido pelas manobras da CBF e de seus clubes aliados.
Pois essa decisão é
tomada como referência para dar o novo título ao Galo.
A CBF atual afirmou que
foi uma decisão baseada em pareceres dos departamentos de competições e
jurídicos. Bem, Ricardo Teixeira alegou também que foi uma decisão técnica.
No final das contas, o
presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, repetiu Teixeira ao reconhecer como um
título Brasileiro um mini-torneio de poucos jogos, e, neste caso, com parte dos
adversários irrelevantes. A base é um monte de matéria de jornais que chamava o
Atlético-MG de campeão brasileiro.
Se houver um mínimo de
coerência da CBF, o Paulistano e o Bangu também devem ser reconhecidos como
campeões brasileiros, já que ganharam o mesmíssimo Torneio dos Campeões, em
1920 e 1967. É possível até cogitar pagar com atraso as cotas de premiação para
a Liga da Marinha pelo seu 5o lugar no Brasileiro.
Difícil é explicar para
os jogadores dos times que correm por 38 rodadas para levantar a taça porque
eles deveriam levar o Brasileiro a sério.