A vitória do conchavo
Por: Felipe Moura - Estadão
Nem o futebol salvou o Brasil em 2022. Enquanto a Argentina conquista a Copa do Mundo do Catar, consagrando a genialidade de Lionel Messi, nosso país segue sem foco ético, sem liderança altruísta, sem exemplo unificador.
De um lado, o petismo renova a compra de apoio parlamentar para turbinar gastos sem cortar privilégios, ou turbinando-os também. O aumento do número de ministérios de 23 para 37, a liberação da nomeação de políticos para 548 cargos de poder com o afrouxamento da Lei das Estatais e a legalização da versão maquiada do orçamento secreto são apostas do governo eleito de Lula para aprovar a PEC do Estouro à base de “toma lá, dá cá”, embora petistas ainda disputem com Centrão e aliados da “frente ampla” os cofres mais cheios e as pastas de maior retorno eleitoral.
O ministro Ricardo
Lewandowsk interrompeu o julgamento das emendas de relator, dando tempo ao
Congresso para aprovar resolução sobre o dispositivo. Foto: Carlos Humberto/STF
De outro lado, o bolsonarismo que uniu o fisiologismo do Centrão a um reacionarismo aloprado e militarista ilustra sua dupla natureza, votando junto com o PT no Congresso pela mudança na Lei das Estatais e pela maquiagem do orçamento secreto, ao mesmo tempo que estimula a alucinação coletiva em estradas e portas de quartéis, com contestação de urnas, clamor intervencionista e vandalismo. A cumplicidade com Jair Bolsonaro e o receio de isolamento de outros potenciais representantes de uma direita democrática inibem críticas à distopia bolsonarista, agravando o isolamento da realidade da suposta direita existente.
De cima, o Centrão do STF, da Câmara e do Senado vai passando a boiada, como se viu na interrupção feita por Ricardo Lewandowski no julgamento das emendas de relator na quinta-feira, 15, para que Arthur Lira e Rodrigo Pacheco aprovassem na sexta, 16, a resolução que mudou critérios de distribuição, sem privar, claro, os presidentes das Casas Legislativas de centralizar fatias polpudas dos recursos. Foi uma “homenagem” ao Congresso, disse em coletiva com Pacheco o ministro Lewandowski, que agora pode virar com Gilmar Mendes o placar de 5 a 4, legalizando, com 6 a 5, o orçamento secreto maquiado. Como se não bastasse sua presença na festa pós-diplomação de Lula, o juiz dá até entrevista com outra parte interessada em meio ao julgamento do tema. Conchavo no Brasil virou tributo, em todos os sentidos. Quem paga, claro, é o povo trabalhador.
Para completar o fim de ano no País, Sérgio Cabral foi libertado da prisão preventiva com votos de ambos os ministros, além de André Mendonça, indicado por Bolsonaro.
Para 2023, o Brasil segue
carecendo de um Messi e de uma oposição de verdade.
Fonte: Estadão
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