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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Quais são os objetivos dos testes físicos surpresas da CBF?

Hoje, Leonardo Gaciba estará realizando mais um teste físico em sua carreira, escrevo este post horas antes do resultado e confesso que estou torcendo e muito pelo gaúcho, sem duvida nenhuma, o segundo melhor árbitro do Brasil. Gaciba fica atrás apenas do paranaense Heber Roberto Lopes. Hoje, a arbitragem de Gaciba quase que sempre serena e sem polêmicas fazem falta ao campeonato brasileiro, onde vários árbitros seguem o seu próprio critério sendo que às vezes este critério é mudado na mesma partida influenciado pelo fator campo e pelo resultado de momento da partida.

De 1993 a 2005 fui árbitro de futebol e sei o quanto é devastador o teste físico para o árbitro, com exceção daqueles raríssimos que chamávamos de "cavalos"* e que por isso faziam o teste com o pé nas costas, os demais sofrem e sofrem muito! Sofrem pela ansiedade, sofrem com medo de ter uma noite que antecede o teste, mal dormida, sofrem com medo do tempo atrapalhar fazendo muito calor e sofrem com o medo da terrível contusão onde você sofre com a dor e as conseqüências, enquanto isso, alguns teimam em não acreditar passando a fazer chacotas. Hoje Gaciba sofre com isso, mais quantos já não passaram por esta mesma situação!

Com eles (os árbitros), sofrem também os seus familiares por serem testemunhas da angústia e do sofrimento que passa o apitador, do stress causado, stress que se acumula, vira um nó, muda o humor e tira a confiança em si mesmo daquele que trás uma família inteira por trás. Vem daí as fortes reações daqueles que são aprovados através de gestos e gritos de desabafos. Para os reprovados ficam o choro, a alto estima lá embaixo, a sensação de ter fracassado e a pergunta no seu inconsciente: O que eu vou falar lá em casa?

O árbitro paulista Wilson Luiz seneme (na foto sofrendo com a dor dupla de não passar no teste e perder o escudo da Fifa) já passou por todos esses dissabores que agora passa Gaciba. Entrou na Fifa em 2006, no final de 2007 com dores na coxa não completou o teste físico e perdeu o escudo, que recuperou em 2008. Porém, desde então convive com as dores e as contusões que faz com que ele de vez em quando não passe nos testes. Foi assim em 2009 em teste realizado em Curitiba e recentemente no inicio de setembro em Assunção no Paraguai, vindo depois a passar no teste realizado em São Caetano/SP, no ultimo dia 23/09. Seneme e Vuaden são os reservas de Paulo César e Heber Lopes para indicação na Copa de 2014 no Brasil, mas a continuar com esse histórico de contusões, fatalmente o árbitro paulista perderá o fôlego e consequentemente cederá o lugar na espera a um dos novos árbitros que são verdadeiros cavalos puro sangue que estão despontando pelo Brasil sedentos pela vaga.

Durante o tempo em que fui árbitro e já faz cinco anos que parei, os testes físicos eram realizados uma vez por ano, quase que sempre na mesma época e às vezes com aviso antecipado, então preparávamos para este teste e durante o resto do ano não treinávamos mais, claro que este método era diferente para os árbitros de ponta e quando digo "de ponta", quero dizer aqueles de primeira linha, aqueles que trabalhavam na primeira divisão de São Paulo. Esta honraria infelizmente não alcancei, talvez por a mim não ter sido dado esta chance e provavelmente por incompetência minha mesmo, mas não fui o primeiro e nem o ultimo a passar por essa situação. Posso não ter sido tudo que esperavam, mas dei tudo o que eu podia.

Esses (de ponta), como ainda é hoje, se reuniam em pré-temporadas, com nutricionista, psicólogos, instrutores, teóricos que nunca pisaram em um gramado e com o pessoal da Fufusa que deixavam todos fisicamente na ponta dos cascos. Esses árbitros com todo tipo de teoria de arbitragem adquirida durante o período da pré, saiam do luxuoso hotel em Campos do Jordão direto para os estádios onde se realizavam as primeiras rodadas do campeonato paulista, ao tentarem aplicar os novos conceitos de arbitragem, quase que sempre a partida terminava em confusão. Os mais inteligentes, rapidamente se adequavam ao que pediam os teóricos com a simplicidade das dezessetes regras do jogo.

Os testes surpresas realizados pela CBF com os árbitros que pertence à relação nacional em todo o país têm dois objetivos. Um é compreensível, é do conhecimento e tem apoio de todos, visa deixar o árbitro sempre bem preparado fisicamente e atento para não ser pego de surpresa sem estar em condição de passar no teste. O outro objetivo nem tanto, com certeza os homens da Conaf não falarão sobre o assunto até mesmo porque foram silenciados pelo Ricardo Teixeira (até eu me silenciaria com os altos salários que recebem) e se falarem, vão dizer que não, mas o segundo objetivo é dar chance imediata para aqueles que por um motivo ou outro não passem no seu teste de origem e desfalque as opções da CA/CBF. Só isso, explica a quantidade de testes surpresas realizados este ano pelo Brasil, já foram dez e ainda teremos mais um em Santa Catarina. Lembro que os reprovados de outros estados podem fazer o teste, desde que se inscreva, via Comissões, ou seja, os testes são para eles.

Sendo assim, torço muito para que o Gaciba passe logo para o seu e para o nosso bem, senão a CA/CBF deverá arrumar mais uns dois ou três testes surpresas antes que termine o ano. Para que não fique duvidas é só não permitir que os repetentes façam o teste surpresa, obedeça-se os prazos pré-estabelecidos para aqueles que não atingiram os objetivos, isto será mais honesto com os que foram aprovados e não deixará que se banalize o teste surpresa. Surpresa pro bem, ou surpresa pro mau!

* Antonio de Pádua Sales, o maior “cavalo” de teste físico que tive o prazer de conhecer, fazia o seu teste brincando e depois repetia duas ou três vezes junto com aqueles que apresentavam dificuldades na prova, fazia isso para dar força a um companheiro e olha que quando o conheci, ele já estava para se aposentar, não era nenhum menino, mais era um senhor atleta, literalmente falando.

Frase: "Estime a solidariedade. Você não poderá viver sem os outros, embora na maioria dos casos os outros possam viver sem você". (André Luiz)

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