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quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Vá produzir, Haddad, ao invés de só nos tomar dinheiro

Por RICARDO KERTZMAN - IstoÉ

Cara, como eu detesto esse papinho furado de taxação de “grandes fortunas”. O pior é que, antigamente, isso era conversa exclusiva de “esquerdinhas” (sardinha ou caviar). Ou o cara era pobre e queria comprar geladeira nova com a grana dos ricos, ou era rico e posava de “socialmente consciente” enquanto se ajeitava com os poderosos de plantão.

Hoje, contudo, o assunto migrou para os estratos mais elevados, ou melhor, elevadíssimos do capitalismo mundial, e ricaços nacionais e internacionais agora deram para defender uma tributação maior sobre os muito ricos. O duro é saber o que entendem por “muito ricos”, porque, para eles, pagar mais ou menos impostos não fará a menor diferença.

Quem tem centenas de milhões, ou mesmo bilhões, de reais – ou de dólares, tanto faz – realmente não se importará em pagar mais impostos. Porém, quem tem alguns milhares, ou poucos milhões de reais ou de dólares, não apenas se importará com o gasto a mais como fará muita falta a grana extra tomada – de si e herdeiros – ao longo dos anos.

A MENTIRA DE HADDAD

É mentira que rico não paga imposto, ou paga pouco imposto no Brasil. Primeiro porque a tributação sobre o consumo é estúpida em Banânia, principalmente sobre bens e serviços não essenciais. Segundo porque, além de pagar muito, o rico tem de pagar duas, três vezes pelo que, em tese, já pagou (saúde, educação, segurança etc.).

Portanto, uma coisa são os impostos penalizarem os mais pobres, outra, bem diferente, é dizer que rico paga pouco – ou não paga. A culpa da desigualdade não é do rico, do setor privado, dos pequenos, médios, grandes e gigantes empresários que trabalham, geram emprego e renda, mas do setor público que nos suga tudo e não devolve nada.

Quem concentra renda de verdade é o Estado e suas castas privilegiadas, isso sim. O que produz um político, ou um governante, senão burocracia, corrupção e ineficiência (com raríssimas exceções)? Ora, quem concentra renda são, por exemplo, ministros e desembargadores, com seus salários e benefícios indecorosos.

POBRE SENDO USADO

Daí me vêm os senhores privilegiados de Brasília e falam em aumentar impostos, como se 40% da renda nacional não fossem suficientes. Por que não “cortam na carne”? Por que não facilitam a vida do setor privado e permitem maior produtividade? Por que continuam com a eterna retórica populista de luta de classes e demonização do capital?

Uma ova que tenho de pagar mais para o pobre viver melhor. Mentira! Vou pagar mais e quem irá viver melhor, como sempre, serão os políticos e governantes, enquanto eu deixo de usufruir do que lutei para ter. “Ah, mas nas nações desenvolvidas é assim”. É verdade! Mas lá não tem ladrão governando cidades, estados e país. Aqui é o que mais tem.

Desde 1947, segundo Fernando de Holanda Barbosa, no livro que sempre cito, O flagelo da Economia de Privilégios, o Brasil acumula déficits fiscais. O Estado sempre gastou muito e mal (consigo mesmo), como sempre gastou pouco (e ainda pior) com o cidadão, e sempre manteve a lógica perdulária e ineficiente, acumulando dívida e gerando inflação.

SE VIREM NOS 30

Daí eu pergunto: a culpa é do rico que paga “pouco” imposto, ou de quem gasta mal – quando não rouba – o dinheiro surrupiado da iniciativa privada? Sinceramente, tô de saco pra lá de cheio dessa conversa fiada, venha da tradicional esquerda confiscatória ou da direita bilionária com sentimento de culpa por enriquecer às custas de privilégios.

Eu compro um carro e pago dois. Viajo para o exterior após pagar impostos como pessoa física e jurídica, e tenho de pagar mais 7% de IOF para usar o cartão de crédito. Contribuo para Educação, Saúde e Segurança públicas (com o maior gosto!) e não usufruo um centavo disso, pagando novamente por estes mesmos serviços privados.

Ou seja, já deu! Fiz minha parte e cumpri com louvor meus deveres de cidadão. Se o que eu pagasse a mais de impostos fosse mesmo para os mais pobres, tudo bem, mas não é. Como nunca foi! Vejam o aumento do salário mínimo e o dos funcionários dos três Poderes (executivo, legislativo e judiciário), nas três esferas (município, estado e União).

O que essa gente quer é transferir para quem trabalha e produz, o custo da gastança e da roubalheira, usando o pobre como desculpa. Fazem isso há décadas, senão séculos. Que Lula, Boulos, Haddad e Paulo Guedes (que também falava nisso) se virem com o que têm – e que não é deles, aliás – e tirem as mãos grandes do nosso bolso.

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